domingo, 29 de setembro de 2013

Fragoselas

Fragoselas

Afinal criei este blogger para partilhar a minha viagem pelos caminhos Portugueses de Santiago, com o nome de Fragoselas.

Fragoselas existe mesmo, é a aldeia de onde a minha Mãe é natural e onde eu durante toda a minha vida vim passar férias e fins-de-semana.

Um local do qual eu adoro e me sinto bem, onde venho carregar as baterias depois de temporadas no stress da vida quotidiana.

É uma aldeia remota do Distrito de Viseu, Conselho de S. Pedro do sul, Freguesia de Covas-do-rio, situada na serra do S. Macário. Esta serra com as suas paisagens verdejantes, os seus riachos de água fria e cristalina, as suas aldeias escondidas nos vales e montanhas aliadas ao magnífico pôr e raiar do sol, dos quais se pode desfrutar, constituem um pedaço do mundo que serve de refúgio aos Deuses da inspiração.

 

Do alto da serra do S. Macário o raiar do sol é mais bonito, as cores fortes que se deslumbram, nas paisagens são um regalo para as vistas, todos dizem serem de criação divina. Dos 1054 m. Do monte podem-se avistar as serras do Montemuro, da Estrela e a serra do Caramulo, vê-se todo o verdejante vale de Lafões e em dias de maior nitidez avista-se, no Porto, a Torre dos Clérigos.
Todo este maciço montanhoso do “Monte Magaio” vive envolto em tradições, rituais, mitos, lendas, crenças de cabras que matam lobos, de serpentes que comem homens e de santos que transportam brasas acesas nas mãos, cujas memórias não se apagaram no correr dos novos tempos.





Nesta aldeia, assim como em todas as aldeias serranas desta região, a vida corre ao sabor da calmaria do tempo e num espaço que chega para que todos vivam em harmonia com a natureza e é desta que se extrai o xisto para construir as casas típicas.








A gentil franqueza dos povos desta região faz-se notar na fraternidade com que nos obsequeiam, com o bom presunto e broa caseira, a também caseira chouriça. São pessoas afáveis e sinceras, sempre dispostas a dar preciosas informações acerca da região e dos seus lugares escondidos que merecem uma visita.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

O caminho que passou por mim



A 18 de Setembro de 2013, iniciei o caminho português de Santiago de bici, na companhia do meu filho Ricardo, da sua namorada Ana e do pai da mesma, Carlos. Um grupo de pais e filhos, onde pessoalmente me agradou muito. Por causa da cumplicidade, amizade e me sentir bem entre eles. Quando se aconselha a fazer os caminhos em solitário, eu preferi de longe fazê-lo na companhia desta trupe, com a vantagem de compartilhar com alguém que se gosta, os sentimentos que nos vários momentos o caminho nos oferece, podendo no entanto, como aconteceu percorrermos troços sozinhos, afastando-nos um pouco e assim reflectirmos com o nosso eu sentimentos só nossos.



A jornada começou no Porto, onde na primeira noite ficamos no refugio do peregrino, gerido por um grande Homem de seu nome Abel. Uma pessoa de alma aberta e um coração do tamanho do mundo, tão boa pessoa é, que até o seu nome tinha que ser Bíblico. Para além de nos receber de uma forma fantástica, que não tenho palavras para lhe agradecer, ainda nos presentou com um carimbo personalizado nas credenciais.  
Para quem não sabe os peregrinos devem ser portadores de uma credencial, para lhes permitir pernoitar nos albergues, entre outras e assim como colocar os carimbos por onde vai passando para desta maneira ficar com uma recordação e no fim poder pedir a Compostela
.





O caminho não podia ter começado da melhor maneira, para além da maneira como fomos recebidos, ficamos sozinhos no refugio e o Abel ainda nos deixou ficar o carro no quintal do refugio. Este Homem foi para nos um anjo e o caminho já nos estava a mostrar tudo o que tinha para nos oferecer, algo que só depois de o concluir-mos consegui-mos perceber.




Na manhã seguinte estávamos todos apreensivos e com os nervos miudinhos de quem sabe que está prestes a começar algo de novo e importante. 


Mas depois das primeiras pedaladas e da saída do Porto que foi um pouca atribulada com o movimento de veículos, a paisagem começou a mudar de urbana para rural e isso deu-nos mais animo e vontade de continuar. 




A primeira paragem foi para um pequeno almoço reforçado. para tentarmos com alguns mantimentos que tínhamos chegar ao fim da jornada. 




Durante todo o caminho as paisagens são brutais, com a presença constante de igrejas, cruzeiros e edifícios centenários. 






























Outra constante no caminho são as pontes, infraestrutura que para além de algumas serem de uma beleza imensa, permite-nos atravessar para a outra margem e no caminho isso faz ainda mais sentido dentro de nós. Percorremos um caminho que também nos faz pensar na travessia de uma vida. 
















  

E assim acabamos o primeiro dia em Tamel, um pouco à frente de Barcelos, com cerca de 60 Km e de alma cheia com todo aquilo que tinhas vivido e compartilhado.










Em Tamel, mais uma vez fomos muito bem recebidos num Albergue que parece mais um hotel. 





Na manhã seguinte, eu pessoalmente estava muito expectante por causa da Ana. Não tinha treinado muito para fazer o caminho de bici e ainda por cima na semana anterior tinha estado doente. Pessoalmente pensei que não aguentava mais um dia com 60 Km. Mas o caminho tem destas coisas, não só fez mais este dia até Valença, como chegou a Santiago. Uma autentica lutadora, de uma vontade imensa. Mas este ia ainda tinha que nos reservar mais uma surpresa. O Ricardo, o mais bem preparado a meio do dia começou-se a queixar de dores nas verilhas causadas por umas borbulhas que o não deixavam sentar no slim da bicicleta. A situação começou nessa altura a piorar ao ponto de se falar na desistência deles os dois e continuarmos eu e o Carlos. Coisa que não me agradava, porque para mim se eles desistissem eu não me sentia bem continuar sem eles. Mas como o Ricardo é um valente, lá continuou com grande esforço e quase sempre de pé em cima da bici, tendo um desgaste muito maior do que seria o normal.   
Com os ânimos em baixo e a subida da Labruja pela frente, pensei que o nosso destino seria, apanhar um autocarro para o Porto. Mas o caminho tem sempre alguma coisa para nos dar. Quando chegamos a Labruja e vimos aquele rio de águas transparentes, não hesitamos e fomos a banhos mesmo em cuecas e soutien. Foi para nós o banho do ano e o recuperar do ânimo, ao ponto de ganharmos força para todo o que nesse dia podia nos aparecer e foi assim com vontade e entreajuda que chegamos a Valência. Foi um dos melhores dias passados no caminho. Pela superação das dificuldades e pela paisagem que é soberba. 



































   
O terceiro dia, foi o dia de entrar na Galiza, com os seus canastros tão típicos desta região e bosque lindos,apesar de se revelar a jornada com menos trilhos e mais alcatrão. Este dia foi complicado por causa do calor que se fazia sentir. Mas apesar de todo lá chegamos ao nosso objectivo de Pontevedra, onde à noite nos refastelamos com um jantar espectacular e com um vinho, que só Baco poderia nos oferecer, " tinto barrantes".
























O ultimo dia, estávamos todos motivados, se tinhamos conseguido chegar até aqui, só um imprevisto muito grande nos impediria de chegar à tão desejada praça de Obradoiro e assim completar a nossa peregrinação que cada um faz com os seus objectivos e à sua maneira.
Saímos de Pontevedra, pela manhã e também com muito calor. A jornada revelo-se a mais bonita em termos de paisagens, com bosques serrados e absolutamente lindos.





A chegada a Santiago e à mítica Praça de Obradoiro, foi para mim uma emoção imensa. Depois de cerca de 260 Km, de bicicleta, com todas as duvidas que tinha antes da partida se seria capaz ou não. Com mais ou menos dificuldades em determinados momentos, chegar foi uma vitoria pessoal. Ainda por cima numa cidade linda e com toda uma mística e mistérios desconcertantes. 
De facto fazer os caminhos de Santiago é algo de especial, difícil de expressar por palavras todas as emoções e sentimentos que nos evadem. Aprendi muito e trago comigo recordações para o resto da vida, vivências que já mais esquecerei. " O peregrino agradece, o turista reclama " , talvez esta frase resuma a filosofia de quem quis ser peregrino. Pena tenho de não ter jeito para revelar através de palavras mias, porque muito fica por dizer, muitas emoções ficam por descrever.

















Aos meus companheiros de peregrinação um muito obrigado por todo e mais alguma coisa e eles sabem que é do fundo do coração.