segunda-feira, 16 de julho de 2018

O Nosso caminho de Santiago pela Costa





O Caminho Português de Santiago pela Costa acompanha o Atlântico e as suas belas praias, ligando as cidades e vilas com forte ligação ao mar até encontrar, em Redondela, o Caminho Central.
Como eu já tinha feito o caminho central duas vezes decidimos (eu e a Manuela), desta vez fazer o de costa, e que boa surpresa tivemos, porque este caminho é absolutamente brutal, tanto a nível paisagístico como cultural e até espiritual.

Este caminho da costa, partindo do Porto e passando pelos actuais concelhos de Matosinhos, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Esposende, Viana do Castelo e Caminha, ganhou relevância durante a Idade Moderna e, sobretudo, a partir do século XVIII, sendo utilizado pelas populações costeiras e pelos que desembarcavam nos portos marítimos. Nesse período foi um dos eixos mais importantes para alcançar Santiago de Compostela. Já na Galiza, desde A Guarda até Redondela (68 km de caminho monacal, o itinerário continua por: A Guarda, O Rosal, Oia, Baiona, Nigran, Vigo, Redondela) cruza com o caminho que vem de Tui. O itinerário completo desde o Porto até Santiago, passando por La Guardia e Vigo, é de cerca de 260 km de Peregrinação.

A nossa peregrinação começou em Viana do Castelo e fizemos cerca de 210 quilómetros até Santiago de Compostela, indo pela variante espiritual, que foi outro percurso fantástico. 

O dia 0 foi a deslocação entre casa e Viana do Castelo através da Redexpresso, para depois de chegarmos podermos conhecer a Cidade de Viana. 

Viana do Castelo é rica em palácios brasonados, igrejas e mosteiros e fontes monumentais que constituem uma riqueza patrimonial que vale a pena visitar. Todas as ruas do centro histórico conduzem ao seu ex-libris: a Praça da República, bem no coração da cidade.
Desde a Idade Média, Viana do Castelo recebe peregrinos a Santiago e conserva ainda hoje o “Hospital Velho” construindo no século 15 para ajudar e receber peregrinos para Santiago. De salientar ainda o fantástico Santuário de Santa Luzia. 


















O dia 1 foi o primeiro dia de caminhada entre Viana do Castelo e Caminha com cerca de 29 quilómetros, o que nos deixou de rastos por ser logo no primeiro dia e uma longa distância. Optamos por ir junto ao mar em vez de seguir as setas amarelas do caminho que vai mais pelo interior e não ficamos nada arrependidos porque o percurso foi lindíssimo, passando por Afife e Vila praia de Ancora, onde começamos a orientar-nos pelas setas amarelas até Caminha e onde ficamos no albergue da associação dos amigos do caminho. 

Caminha é uma bonita vila, sede de município, localizada bem na foz do Rio Minho, num local abençoado pela natureza, fronteiriça com Espanha. Destacam-se o que resta do Castelo e muralhas defensivas, a bonita Igreja Matriz do século XV, a da Misericórdia do século XVI, o curioso conjunto de casas manuelinas e renascentistas na pitoresca Rua Direita, conhecidas pelas “oito casas”, e aquele que é um símbolo da cidade (a par da idílica foz): a Torre do Relógio, a única existente das três portas de entrada na vila do Castelo, que constituía o principal acesso da vila. Frente à Torre do Relógio, o renascentista Chafariz do Terreiro.












































O dia 2 começou com a travessia do Rio Minho de barco logo pela manhã, para depois seguirmos para a A Guarda e dai até Mougás, com cerca de 23 quilómetros. 

O primeiro núcleo importante que encontramos é o da A Guarda, uma aldeia piscatória onde se destacam a Praça do Reló e a igreja de Santa Maria, bem como o seu porto. Em seguida, descemos às praias de Fedorento e Area Grande, onde foram encontrados depósitos arqueológicos ricos em utensílios feitos por antigos colonos.

Atravessaremos as terras de O Rosal, famosas pelos seus vinhos, e entrámos no município de Oia. Aqui, o Mosteiro Real de Santa Maria de Oia, do século XII, merece atenção especial.

Por fim, terminámos a etapa em Mougás, onde está localizado o albergue de peregrinos O Aguncheiro, que foi um dos melhores onde ficámos, com uma vista fantástica para o Atlântico.





































O dia 3. Nesta etapa do Caminho Português ao longo da costa, deixámos a aldeia de Mougás para terminar na cidade de A Ramallosa numa etapa com cerca de 20 quilómetros. Durante o percurso, passámos pelos municípios de Oia, Baiona e Nigrán, os dois últimos conhecidos entre os turistas que passam o verão na Galiza devido às suas praias, sua gastronomia e suas belas paisagens.

A etapa começa no O Aguncheiro, em Mougás (Oia), e segue ao longo de seu primeiro trecho paralelo ao litoral. Um pouco antes de chegar ao Cabo Silleiro, onde começa a ria de Vigo, vira à direita para as montanhas de Baredo para finalmente descer à cidade de Baiona, atravessando-a pela cidade velha.

Quando deixamos Baiona para trás, entramos na freguesia de Santa Cristina de A Ramallosa, em Sabarís, onde sobressaem as suas pequenas pontes do século XV, a igreja e a casa senhorial do Cadaval.

Então, através da ponte românica, atravessamos o rio Miñor, que separa os municípios de Baiona e Nigrán e dá origem a um belo pântano, onde podemos observar uma grande variedade de aves. Finalmente, fomos até ao Mosteiro das Senhoras Apostólicas, também chamada Pazo de Pías, onde podemos descansar do nosso duro dia.
































Dia 4. Esta etapa pode ser feita por dois percursos distintos, sendo um mais longo, mas mais belo, pela orelha do mar, e outro mais curto, pelo interior. Nós fomos pelo interior e fizemos cerca de 18 quilómetros, dos quais sete a subir muito até ao Freixo. Ambos se encontram em Gontade. Nós como optámos ir para O Freixo, porque sabíamos que em Vigo os albergues estavam todos cheios por causa de uma festa que estava a decorrer na cidade, a seguir a Gontade tivemos que virar à direita e seguir as setas verdes.

No Freixo vive o Luís, um enorme entusiasta deste caminho, uma das pessoas mais experientes e disponíveis para ajudar e acolher. O albergue no Freixo é um Refúgio da associação de moradores, mas tem tudo o necessário, menos cozinha, tem um bar da associação e geralmente o Luís ajuda a preparar uma refeição quente partilhada.

Como O Freixo é uma aldeia isolada e não tem comercio, eu e a Manuela, depois de almoçarmos e descansar um pouco, apanhámos o autocarro e fomos fazer umas compras a Vigo, aproveitando para também conhecer a cidade. 



























Dia 5, ligámos O Freixo a Redondela com cerca de 27 quilómetros. Uma vez que O Freixo fica descentrado relativamente à linha da Costa, há que entrar em Vigo por Sudoeste, encontrando já dentro da cidade as setas amarelas de novo, que, após a subida do Calvário, nos leva ao trilho das Augas, uma levada alta.Em seguida, passámos por Cabanas, Rande e A Formiga seguindo uma trilha florestal praticamente plana. Antes de chegar ao nosso destino, ainda vimos o Pazo de Torrecedeira e a igreja de San Andrés de Cedeira.


Finalmente, descemos a Redondela seguindo a estrada local para entramos na cidade velha até chegarmos ao albergue, que neste caso foi privado e com muito boas condições e privacidade. 






















O dia 6 foi feito numa etapa do caminho central entre Redondela e Pontevedra com cerca de 20 quilómetros e cheia de peregrinos e sobretudo turiperegrinos.

Na saída de Redondela, depois da ponte ferroviária, descemos até a capela barroca de Santa Mariña. O Caminho continua através das paróquias de Cesantes e O Viso, com uma secção de subidas. Um pouco mais adiante temos uma vista panorâmica da enseada de San Simón e depois descemos para o Arcade. O itinerário urbano passa ao lado de um nicho decorado com motivos do Caminho de Santiago e repleto de todo tipo de selos e dedicatória.

Descemos para Pontesampaio e atravessamos a ponte onde se deu a batalha que foi uma das maiores derrotas do exército napoleônico na Galiza às mãos do povo armado, foi travada durante a Guerra da Independência.

A rota sobe e entra na Vella da Canicouva, um caminho evocativo de grandes Lajes que percorre a rota da estrada romana XIX. Depois de atravessarmos duas estradas, chegamos por um trilho de milheiral até a capela de Santa Marta, que remonta ao ano de 1617.

A partir deste ponto, o caminho continua ao longo da estrada, embora se possa tomar uma rota alternativa que evita a estrada e vai ao longo das margens do rio Tomeza. Finalmente, entramos em Pontevedra pela estrada Gorgullón e Virxe do Camiño.

Aqui mais uma vez evitámos o albergue Municipal porque estava a abarrotar e fomos para um privado e também ele com muito boas condições. É certo que os albergues privados são cerca de 6€ mais caros, mas em muitos casos vale bem a pena.

De tarde fomos comer "solomilho na Pedra" que é um petisco divinal e visitar a cidade de Pontevedra que é fantástica.

"Pontevedra dá de beber a quem passa" é um dito Galego que expressa bem a essência e   hospitalidade das gentes desta cidade. 































No dia 7 de caminhada saímos de Pontevedra, para uns quilómetros mais à frente apanharmos a variante Espiritual. Esta variante do Caminho de Santiago une o Caminho Português com a rota Traslatio, também conhecida como a Rota do Mar de Arousa e do Rio Ulla, que é a origem de todos os caminhos.

Organizada em três etapas, inicia em Pontevedra e termina em Pontecesures, onde se une à última etapa do Caminho Português. A peculiaridade desta Variante, é radicada nas duas primeiras etapas que se realizam a pé e atravessam a bonita Comarca de O Salnés; enquanto que a última etapa é realizada em barcas desde Vilanova de Arousa até Pontecesures, navegando pelas águas da Ria de Arousa e concluindo no último trecho navegável do Rio Ulla.

ORIGEM DA ROTA:
No ano 44 dC, por ordem de Herodes Agripa I, o Apóstolo Santiago, que tinha regressado a Jerusalém depois de pregar alguns anos nos territórios de Hispania (a actual Espanha), foi decapitado. Os poucos discípulos hispânicos que o seguiram para Jerusalém, roubaram o corpo e transportaram-no numa barca de pedra sem tripulação que, guiada pelos anjos e por uma estrela, foi conduzida para a foz do rio Ulla, até atracar em Iria Flavia, a actual cidade de Padrón.

Na primeira etapa de 23 quilómetros. Partindo da praça da Peregrina, em Pontevedra, a rota dirige-se pelas paisagens pitorescas da Comarca de O Salnés, atravessando a dinâmica cidade de Poio com o seu mosteiro antigo e a bela cidade costeira de Combarro para subir até ao destino final da etapa: o incrível Mosteiro de Armenteira, uma construção repleta de história desde o ano de 1162. 

Como no outro dia a seguir tínhamos que estar cedo em Vilanova de Arousa para apanhar o barco e por isso íamos sair muito cedo de Armenteira ainda de noite, aproveitamos e fomos visitar o trilho da água e da pedra logo à saída de Armenteira. 



































   
O dia 8 foi dia de chegar bem cedo a Vilanova de Arousa para apanhar o barco e por isso saímos do albergue ainda de noite.

Esta etapa divide-se em duas, os primeiros 23 quilómetros a pé até Vilanova de Arousa e depois mais 28 quilómetros de barco até Padrón.

Esta etapa começa percorrendo a sugestiva “Rota da Pedra e da Água“, o que já tínhamos feito no dia anterior de dia. Uma vereda que faz fronteira com o pequeno rio Armenteira, cercada por uma vegetação exuberante e suave e por recantos pitorescos. Continua em direcção ao norte passando por Ribadumia e Pontearnelas, para alcançar a costa em Vilanova de Arousa. 

De Vilanova até Pontecesures, começa a rota marítima, a assim chamada de Traslatio. Este trecho também pode ser percorrido a pé, ao longo da costa da Ria e do Ulla.


Depois de embarcar em Vilanova, remonta-se a bonita Ria de Arousa até chegar à foz do Rio Ulla e navegar os seus últimos trechos até ao destino final. No trajecto, pode ver-se a única Via Crucis marítimo-fluvial do mundo, uma colecção de 17 cruzeiros que assinalam o percurso do Apóstolo. Segundo a tradição, a barca de pedra com o corpo de Santiago chegou até Iria Flavia, perto da actual cidade de Padrón e neste ponto é onde a variante espiritual reencontra o Caminho Português.









































Dia 9 e ultimo, é o dia das emoções ficarem à flor da pele. Sabemos que só nos falta 28 quilómetros e a sensação de conquista começa a invadir-nos, mas ao mesmo tempo também nos invade a nostalgia de sabermos que vamos acabar aquilo que tanto gostámos de fazer. 

O derradeiro troço do “nosso” Caminho de Santiago, obviamente para ambas as Opções, começa suave mas só acaba depois de duas boas subidas, exigindo um último esforço até à chegada, em apoteose, a Santiago de Compostela e à bela Praça de Obradoiro. 















O caminho faz-se caminhando. O caminho é aquele que escolhemos. O caminho faz-se com mais ou menos sofrimento. O caminho sem dor não tem gloria. O caminho ensina-nos a viver com o essencial e a mostra-nos que precisamos de muita pouca coisa para sermos felizes. O caminho é cultura, ajuda ao próximo e amor. O caminho faz-nos crescer e aprender,  mas do caminho o melhor que levamos são aqueles com quem caminhamos. Um muito muito obrigado a todos que nos deram essa oportunidade e amizade. As próximas fotos são dedicadas a eles e eles sabem bem quem são. 

E para acabar uma palavra de apresso e muita muita admiração por essa grande mulher, que se chama Manuela. Apesar da doença degenerativa com que sofre, faz 210 Km sem hesitar um único momento, é de uma força e vontade incríveis que eu não sei se seria capaz. Posso dar-te um beijinho todos os dias, mas fica aqui um especial por teres-me dado uma grande lição de vida. 










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