sábado, 13 de julho de 2019

O Nosso epílogo nos caminhos de Santiago




O Nosso epílogo, na verdade começou no caminho Inglês de Santiago. Dos chamados países escandinavos, como a Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia e Islândia e sobretudo, Ingleses, Escoceses, Irlandeses e Flamengos. Todos eles contribuíram para fixar o que hoje conhecemos como o Caminho Inglês de Santiago. Chegavam dos respectivos portos à Galiza por mar e atracavam em Ferrol ou Corunha mas também em Viveiro e Ribadeo, no litoral Lucense. A estratégica localização dos portos destas duas importantes cidades Galegas potenciou de forma evidente o trajecto para chegarem a Compostela.


O Caminho Inglês tem na Galiza duas alternativas: o itinerário a partir da Corunha é mais curto — 73 km — e o que parte de Ferrol — 112,5 km. Os dois, cheios de atractivos e história, confluem na metade do caminho, na localidade de Bruma, onde continuam juntos os últimos 40 km até Compostela.

Nós optamos por chegar à Corunha, visitar a cidade e depois partir para Ferrol, para então começarmos este peregrinação até Santiago de Compostela e seguir para o epílogo. 


O Caminho Jacobeu de Fisterra e falamos do já centenário epílogo do Caminho de Santiago é a representação mais fiel desse histórico grito do peregrino, que exclama Ultreia! ("Vamos para além!"), enquanto outro lhe responde Et suseia! ("E mais para cima!"). Pois é efectivamente para além da meta em Compostela — depois de se ter prostrado diante dos restos do Apóstolo Santiago — que muitos peregrinos, como nós, decidem conhecer este fim do mundo, e não duvidam em ultrapassar os sacrifícios das duras jornadas para andar, pelo menos, mais uns quatro ou cinco dias. São 89 os quilómetros que faltam para Fisterra e 87 para Muxía, é o troço final dum itinerário marcado no céu pela Via Láctea.

Até ao fim da Idade Média, a Costa da Morte era o último reduto de terra conhecida. O lugar por onde os povos pré-romanos acreditavam que as almas ascendiam ao céu. Um espaço mítico e simbólico que deixaria boquiabertos os conquistadores romanos quando vissem desaparecer o sol por trás do imenso oceano. Desde então, a extremidade do cabo de Fisterra magnetiza qualquer pessoa que lá chegue. 

Mapa dos Caminhos 

No dia da chegada à Galiza e mais concretamente à cidade da Corunha optámos por conhecer a cidade, com as fachadas sobre as galerias da Avenida da Mariña. As varandas de madeira e vidro, originaram a designação de Cidade de Cristal. No centro da Corunha fica a Praça de María Pita, erguida em 1860 e principal ponto de encontro entre cidadãos e visitantes, onde fica o edifício do concelho, que alberga a maior colecção de relógios da Europa. O centro histórico da urbe é a Cidade Velha onde se encontram construções religiosas como a Igreja de Santiago, a mais antiga da cidade e a Colegiata de Santa María do Campo.

No passeio marítimo fica a Torre de Hércules, o monumento mais emblemático da cidade. Data do século II D.C. e é o farol em funcionamento mais antigo do mundo.



As varandas de madeira e vidro
As Varandas de madeira e vidro 
Praça María Pita 
Praça María Pita
Torre de Hércules 
Rosa dos ventos 
Rosa dos ventos e Torre de Hércules 
Já ao fim do dia partimos para Ferrol em autocarro, onde na manhã seguinte iríamos iniciar o caminho Inglês. Ainda tivemos tempo para conhecer esta cidade Galega, que tem como ponto marcante a construção naval e o arsenal marítimo Espanhol, com vários vasos de guerra ali estacionados. 


Ferrol 
Ferrol
Ferrol
Ferrol 

O inicio do caminho 
No dia seguinte fizemos os primeiros 13km até Neda, num percurso muito fácil que serviu para aquecer as pernas para o resto que ai vinha. 

Este etapa também foi mais curta porque é assim que está nos sites oficiais dos caminhos e foi esse o plano inicial que tínhamos, mas depois de chegar ao albergue de Neda e à conversa com o Hospitaleiro, ele simpaticamente explico-nos uns pormenores do caminho e a melhor maneira de os fazer.  O problema deste caminho é que a maioria das pessoas que o fazem começam todas em Ferrol e andam juntas até ao fim, enchendo os albergues e por vezes os peregrinos mais atrasados ficam sem camas para dormir nos albergues.Com isto alterámos os nossos planos e seguimos as indicações do Hospitaleiro avançando meia etapa e desta maneira ficarmos em albergues com poucas pessoas. O resultado foi que em praticamente todo o caminho dormirmos em albergues só com cinco pessoas. 




Pela manhã 
Capela de Caranza
Saída de Ferrol
Pequeno túnel 
Maré vazia 
A Manuela a contemplar a paisagem 
Só já faltam 100 
Ponte pedonal de Neda 
Albergue de Neda 
Albergue de Neda 
Igreja de Neda 
Ponte pedonal de Neda à noite 
Ao segundo dia ligámos Neda a Miño num total de 27km, passando por Pontedeume, onde ficaram a maioria dos peregrinos.  

Esta etapa já foi um pouco mais dura,porque até Pontedeume seriam cerca de 17km e assim fizemos mais 10km. Este percurso foi feito  num dia de calor, o que torna as coisas um pouco mais difíceis, mas nada que não se consiga e com um final numa cidade com praia onde tivemos o privilegio da a desfrutar e tomar uma bela banhoca para refrescar. 


Antigo moinho de água 
Flores 

Bicharada 


Pontedeume
Pontedeume 
A caminho de Miño 

Praia de Miño 

Praia de Miño
Albergue de Miño 
Vista da minha cama 
No terceiro dia ligámos Miño a Presedo num total de 23,5km e numa das piores etapas que já fiz em todos os caminhos de Santiago. Uma etapa com muita estrada e algumas mesmo muito perigosas. Viemos a saber mais tarde e através de uma velhota, que os antigos caminhos passavam por onde é hoje uma estrada nacional e não criaram alternativas. 

Para compensar este facto, ficámos num albergue com um graffit espectacular no meio do nada e mais uma vez ficamos só os cinco peregrinos. 

   
Pela manhã na Ponte de Lambre 


Entrada na cidade de Betanzos 
Betanzos onde ficaram a maioria dos peregrinos 
Betanzos 
A caminho de Presedo 
Pausa 
Graffit espectacular  
Presedo 
Presedo 
A etapa do quarto dia ficou marcada pela falta de sinalização para o albergue de Ordes, o que nos fez fazer uma etapa longa e cansativa. Mas a historia começa em Neda com a planificação das etapas. O Hospitaleiro num dos pormenores que nos disse foi que de Presedo ao Hospital de Bruma era um troço muito difícil com 14km sempre a subir e um desnível de cerca de 450m. Então decidimos por, ou fazer só os 14km, ou se nos sentíssemos bem em Bruma continuávamos até Ordes, numa etapa de 27km. 

Quando chegámos ao Hospital de Bruma, ainda nos sentíamos frescos e decidimos continuar para Ordes, o problema foi que passamos o albergue de Ordes sem perceber e quando percebemos já tínhamos feito mais 10km e estávamos a 8km do próximo albergue em Sigüeiro. Voltar para traz ficou fora de questão e assim passamos de uma etapa prevista de 14km para 40km. Mas como eu e a Manuela somos FOOTES, chegámos a Sigüeiro já ao fim do dia e com um tratamento daqueles.

Com isto adiantámos a meia etapa que tínhamos em relação aos outros peregrinos e fomos parar a Sigüeiro, onde ficam a maioria deles. Como era previsível, estava tudo ocupado e não existia dormidas nos albergues, mas neste caminho tudo que nos aconteceu, aconteceu sempre para melhor e com ajuda de um Hospitaleiro acabamos por arranjar dormida numa Pensão (Pensão Vilanova), um pouco afastada da cidade, mas gerida por pessoas que nos trataram como se fossemos da família, inclusivamente tiveram a amabilidade de nos ir buscar de carro à cidade. Com isto tudo adiantámos um dia e em vez dos nos faltar como previsto dois dias para chegar a Santiago de Compostela, só já nos faltava um dia. 

   
Pela manhã 
Paradoxo 
Assim ficamos sempre bem nas fotos 
Flores
Pequeno almoço às 10 horas 
Efeitos 
Peregrinos 
Canastro 
Animais 
Sopa Galega para recuperar as forças 
Ao quinto dia ligámos Sigüeiro a Santiago de Compostela numa etapa de 18km, o que depois da etapa do dia anterior, foi canja para nós. Mas como este caminho só nos presenteou com o melhor, a vantagem deste dia foi que em vez de fazermos 28km como estava programado de Ordes a Santiago, fizemos só os 18km e aproveitámos mais a estadia na cidade de Santiago de Compostela. 

Esta etapa foi a mais bonita do caminho Inglês. Até Presedo não gostámos muito por se andar muito por alcatrão, mas a partir de Presedo já se anda mais em bosques e esta foi uma constante até à entrada de Santiago. Depois foi a chegada à praça de Obradoiro, que apesar de sabermos que continuávamos para o epilogo, não deixa de ser uma emoção indescritível. 

O dia começou envergonhado  
Nos Bosques 
Bosque encanado 
o caminho 
A chegar à Praça Obradoiro 
A Chegada 

Catedral 
Catedral 
Catedral 
Mais uma Compostela 
Somos FOOTES 
Praça de Obradoiro ao anoitecer 
No dia seguinte iniciámos o epilogo para Muxía e Fisterra. Tínhamos mais quatro dias de caminhada pela frente e com as expectativas altas, pois segundo os entendidos é o completar deste caminho que faz um peregrino ser um peregrino completo. É chegar onde o Apostolo se encontrou com a virgem da Barca é chegar onde se pensava que era o fim da terra, o misticismo, as lendas e o desconhecido invadia-nos nesta partida que foi inesquecível e envolvida por um nascer do sol que só este caminho nos podia oferecer. 

A etapa foi dura como de resto é todo o epílogo. Neste dia fizemos 31km, porque mais uma vez avançamos um pouco mais em relação ás etapas que estão programadas na grande maioria dos sites. Nos sites a primeira etapa programada é de Santiago a Negreira num total de cerca de 20km, por ser dura, nós avançamos até o Alto da Pena, uma aldeia no meio do nada onde basicamente só tem o albergue e mais meia dúzia de casas.



O inicio inesquecível  
O que faltava 
A sombra de quem caminha com a alegria de viver 
Canastro 
Ponte Romana 
O caminho 
Ponte de Maceira uma aldeia medieval bem conservada  
Ponte de Maceira 
Ponte de Maceira 
Ponte de Maceira 
Ponte de Maceira 
Negreira 
Negreira 
Negreira 
O caminho 
Vista do albergue 
Ao sétimo dia ligámos o Alto de Pena a O Logoso num total de 31km e também eles bem durinhos, com subidas acentuadas. Este dia foi marcado pelo tempo mais húmido mas sem chover e pelos campos de cultivo a perder de vista. Mais uma vez ficámos numa aldeia muito pequena sem nada, mas de uma tranquilidade que só se encontra nestas aldeias isoladas.

 
Campos de cultivo 
Campo de milho com uma flor 
Ribeira com água translucida  
Canastro 
As subidas 
Nevoeiro  
Paisagem 
Cemitério Galego 
Campo de cultivo 
Mais uma vez ficámos bem na foto 
O que estás a fazer ??
O Logoso 
No oitavo dia chegámos a Muxía depois de mais de 29km, numa etapa difícil mas também ela bonita e com vários pontos de interesse, como a igreja e Mosteiro de San Xiao, com um altar singular feito na própria parede do edifício. 

Outra das terras com enorme tradição Jacobeia é a costeira vila de Muxía. A razão para tal importância prende-se com a lenda que narra a aparição de Nossa Senhora, numa barca de pedra guiada por anjos, ao Apóstolo com o objectivo de lhe dar alento na sua “missão” apostólica.

No local da aparição foi erigido em 1544 o Santuário da Nossa Senhora da Barca, que desde então se tornou num importante local de peregrinação. Outro ícone da vila é  "A Ferida" de Alberto Bañuelos, uma escultura que simboliza a ferida que foi feita ao mar pelo derramamento de 66.000 toneladas de petróleo quando o petroleiro Prestige se afundou na costa de Muxía em 13 de Novembro de 2002. A escultura é de 11 metros de altura e pesa mais de 400 toneladas.  Passamos por Muxía e pelo seu Santuário, à beira mar plantado, e ficamos encantados. Ficam as fotos que atestam a sua beleza.


A bifurcação para um lado Muxía para o outro Fisterra 
Curiosidades 
Dumbría 
Senande
Casa Galega 
Aparição do mar  
Altar de San Xiao
Brincadeirinha 
Já perto de Muxía 
Já perto de Muxía 
Assim também se peregrina 
A Virgem 
Santuário da Virgem da Barca 
Santuário da Virgem da Barca
A Ferida 
Uma vista inesquecível  
O deslumbramento 
Pessoas felizes 
No final de uma etapa também temos direito a coisas boas 

No ultimo dia só nos faltava chegar a Fisterra, com uma etapa que se revelou muito difícil por causa do calor, mas também da demografia. Esta etapa tem apenas um ponto de abastecimento nos cerca de 30km, que é na Vila Lires e depois no fim ainda temos que fazer mais 3,5km para cada lado, para chegar ao cabo de Fisterra. Com isto acabamos a etapa com quase 40km. 

Os romanos pensavam que este era o ponto mais ocidental da terra e, portanto, era aqui que o mundo acabava. Era o "finis terrae". Porque razão alguém viria ao fim do mundo?

Talvez porque o Cabo Finisterra esconde o verdadeiro segredo da Costa da Morte: paisagens agrestes e praias impressionantes, umas (ao abrigo do cabo) de águas tranquilas e outras de forte ondulação, como a Mar de Fora, uma das praias mais selvagens da Galiza. E a grande atracão de todos os tempos: o por-do-sol sobre a imensidão do oceano, o mar do fim do mundo.

Seja por curiosidade, por devoção, espiritualidade ou para viver uma aventura, o Cabo Finisterra foi um imã desde a mais remota antiguidade, atraindo viajantes de países longínquos e também, com menor fortuna, os inúmeros barcos que naufragaram nas suas águas.

Hoje, com o seu potente farol, o Cabo Finisterra continua a exercer uma atracão especial sobre os peregrinos do Caminho de Santiago, que não dão por terminada a sua viagem até chegar aqui. Por algo será e vos digo que só aqui chegados podem sentir o que de facto é chegar ao fim da terra. 


O nascer do dia 
Não podia deixar de ser 
Uma pausa com vistas brutais 
É para aqui
Canastros 
O Caminho 
Já a subir para o farol
A Chegada ao KM 0
Estamos no fim da terra 
Símbolos de um caminho 

Um descanso merecido 
Por do sol 
Final apoteótico 

Esta peregrinação foi especial por todo o aconteceu, na verdade sentimos-nos abençoados. Desde o tempo que esteve sempre óptimo para caminhar ficando o sol aberto nos momentos mais convenientes, passando pelas pessoas com quem contactamos e sem excepção de nenhuma, todas nos trataram como se nos conhecessem já à muito tempo e depois o factor mais importante que foi sentirmos-nos sempre bem de saúde para vencer as dificuldades de se fazer vários quilómetros por dia em vários dias seguidos. 

Todos os caminhos são diferentes, mas este teve algo de muito especial, os sentimentos que nos invadiram foram de cargas muito positivas e sentia-amos que nada nos podia parar, a cumplicidade o amor e aquilo que nos une fortaleceu-se e fizemos-lo na crença  que Santiago irá proteger a nossa neta Olívia.       





 
  

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